
Mudar de vida não é sobre fazer mais, ser mais produtiva ou seguir uma rotina em que você precisa acordar todos os dias às 5h da manhã. É sobre mexer na base interna: nos pensamentos que você alimenta, nos sentimentos que você engole, nas promessas que você faz a si mesma e quebra.
É fácil dizer “acorde mais cedo”, “beba mais água” e “faça exercício físico”. O difícil é lidar com a raiva silenciosa que você sente por estar estagnada. É olhar no espelho e ainda se sentir distante da mulher que gostaria de ser. É fazer uma lista de metas e, ao fim do dia, se perguntar: por que as coisas para mim parecem simplesmente não funcionar?
Neste guia, a ideia não é romantizar a mudança. É te dar um caminho possível. Um processo de 30 dias onde você vai praticar o que realmente transforma: consistência emocional, presença mental e microescolhas conscientes.
Algumas semanas atrás eu fiz um vídeo no canal sobre como mudar a sua vida em 6 meses. Neste vídeo, eu quero falar sobre o primeiro mês. Como implementar as mudanças que você deseja e ver crescer na sua vida os hábitos e atitudes mentais que te transformam de verdade.
Princípios da Mudança Real
Antes de falar do plano, eu preciso te contar algumas verdades:
- Mudar é desconfortável. Você vai ter que abrir mão de padrões conhecidos. Isso inclui desculpas, medos e até rotinas “confortáveis” que te sabotam.
- Você não é seus pensamentos. Mas precisa aprender a observá-los sem se identificar com eles.
- Seus sentimentos não são o problema. O problema é quando você tenta fugir deles.
- Transformação não é um evento. É um processo de escolha consciente, um dia após o outro.
Cuidado com a fantasia da versão ideal
Um dos maiores sabotadores de qualquer tentativa de mudança são as expectativas irreais.
Quando decidimos transformar a nossa vida, é comum imaginar uma versão idealizada de nós mesmas: disciplinadas, constantes, motivadas todos os dias. Só que essa fantasia cria um peso que paralisa.
Criar novos hábitos não é um processo linear — é um ciclo de tentativa, erro, adaptação e retomada. E tudo bem se alguns dias forem bagunçados ou se a motivação falhar. O que importa não é manter um padrão impecável, mas cultivar consistência emocional o suficiente para continuar mesmo quando o cenário não é perfeito.
Mudar de vida exige que você abra mão da pressa e das comparações, e abrace o real: o processo é imperfeito, mas profundamente transformador quando você se compromete com ele de verdade.
Vou ler aqui um trechinho para vocês do livro “Por que ninguém me disse isso antes?”, que ilustra bem isso:
“… se você acha que nunca pode falhar, fica sujeito a uma montanha-russa de emoções e oscilações de humor quando comete um erro ou se depara com um revés. Podemos lutar pelo sucesso e aceitar alguns fracassos no caminho. Mas, quando estabelecemos para nós mesmos expectativas irrealistas, ficamos presos na armadilha que elas trazem. Sofremos toda vez que surge um sinal de que talvez não estejamos a altura dos nossos planos.” (Por que ninguém me disse isso antes?)
O meu melhor conselho aqui para você é: seja humilde. Reconheça que você vai falhar, vai errar, que talvez as coisas não aconteçam de maneira tão rápida quanto você gostaria. Mas se concentre no esforço de fazer o seu melhor todos os dias, entendendo que o seu melhor não será o mesmo todos os dias.

Como lidar com os pensamentos negativos
Ao tentar mudar de vida, é inevitável que pensamentos negativos apareçam: “você já está gorda demais para emagrecer agora”, “para quê tentar de novo?”, “tá vendo como você não dá conta? tem gente muito mais inteligente que você prestando o mesmo concurso!”.
Esses pensamentos não são sinais de fracasso — são mecanismos mentais automáticos, muitas vezes enraizados em experiências antigas, medos e crenças limitantes.
A chave aqui é desenvolver metacognição, ou seja, a capacidade de observar seus próprios pensamentos como eventos mentais — e não como verdades absolutas.
No livro “Por que ninguém me disse isso antes?”, a autora escreve assim:
“Temos a capacidade de pensar. Mas temos também a capacidade de pensar naquilo que pensamos. A metacognição é o processo de recuar dos pensamentos e ficar a uma distância que nos permita vê-los tais como realmente são. Quando fazemos isso, eles perdem um pouco de seu poder sobre nós e sobre como nos sentimos e nos comportamos. Passamos a escolher como reagir a eles, em vez de sermos controlados e impelidos por alguma coisa.” (Por que ninguém me disse isso antes?)
Quando você aprende a dizer “estou tendo o pensamento de que sou incapaz” em vez de “sou incapaz”, algo muda. Você cria uma distância interna. Um espaço de liberdade. E é nesse espaço que nasce a possibilidade de agir de forma diferente, mesmo diante do pensamento difícil. A mente vai tentar te proteger te mantendo onde é seguro — mas você pode gentilmente agradecer essa tentativa e seguir mesmo assim. Porque a sua vida não precisa ser guiada por cada ideia que passa pela sua cabeça.
Uma coisa que me ajuda muito nesse processo é esse caderninho aqui. Eu já falei sobre ele em outros vídeos do canal, mas esse caderninho aqui é basicamente o meu caderninho do tudo. Tem um nome em inglês para ele, que é “commonplace book”.
Um commonplace book é um caderno ou arquivo pessoal onde você registra ideias, frases, aprendizados, reflexões, trechos de livros, insights de conversas ou qualquer coisa que te provoque intelectualmente ou emocionalmente.
É como um repositório íntimo de sabedoria — um lugar para guardar aquilo que te move, te ensina ou te desafia. Muito usado por filósofos, escritores e pensadores ao longo da história (como Leonardo da Vinci, Marco Aurélio, Virginia Woolf), o commonplace book não segue uma estrutura fixa. Você pode usar como quiser. Serve para conectar pensamentos ao longo do tempo e construir um diálogo contínuo consigo mesma.
Em um processo de mudança de vida, manter um commonplace book é uma ferramenta poderosa de autoconhecimento: ele ajuda a dar forma ao caos interno, a lembrar de quem você está se tornando e a manter vivo o que realmente importa, mesmo nos dias em que tudo parece incerto.
Eu amo escrever aqui porque me ajuda a olhar os meus pensamentos de fora, principalmente nos dias mais difíceis. Eu escrevo tudo o que está se passando na minha cabeça e, quando eu releio, parece que as coisas ficam magicamente mais claras, sabe? Se você nunca tentou, fica a dica! Experimenta!

Zona de aprendizagem
O modelo de aprendizagem de Luckner e Nadler propõe que o aprendizado significativo acontece quando a pessoa é desafiada fora da sua zona de conforto, mas ainda assim se sente segura o suficiente para experimentar. Eles identificam três zonas:
- Zona de conforto – onde tudo é familiar, previsível e controlável. Aqui, você se sente segura, mas o crescimento é mínimo.
- Zona de aprendizagem – onde há desafio, novidade e uma dose saudável de desconforto. É aqui que o cérebro presta mais atenção, que as experiências se tornam transformadoras e que os novos hábitos começam a se consolidar.
- Zona de pânico – onde o desafio é grande demais, gerando ansiedade, paralisação ou desistência. Nessa zona, o cérebro entra em modo de sobrevivência, e o aprendizado se bloqueia.
No contexto de mudar de vida e criar novos hábitos, entender essas zonas é essencial. Muitas vezes, queremos resultados diferentes mantendo comportamentos da zona de conforto — o que é ilusório. Por outro lado, tentar transformar tudo de uma vez pode nos lançar direto na zona de pânico, levando à exaustão ou abandono precoce. O caminho sustentável está na zona de aprendizado: sair do piloto automático, um passo por vez, experimentando novos comportamentos e se permitindo falhar e tentar de novo. Mudança verdadeira não exige heroísmo imediato, mas sim a coragem de se manter em movimento dentro de um desconforto que você consegue sustentar.
Aí eu vou te contar quais são os principais ingredientes de que precisamos para entrar de cabeça na zona de aprendizagem, de acordo com a autora de “Por que ninguém me disse isso antes?”:
“Reconhecer que você pode melhorar com o esforço.
Dispor-se a tolerar o incômodo de se sentir vulnerável por algum tempo.
Desenvolver seu compromisso pessoal de sempre se apoiar e fazer o melhor por si mesmo, quer tenha êxito, quer fracasse. Trata-se de abraçar a autocompaixão como uma prática de vida e ser o seu próprio treinador, não o seu pior crítico.
Saber enfrentar a vergonha que pode advir do fracasso, a fim de prevenir a sua tendência a desistir dos seus sonhos, no esforço de evitar a vergonha de um retrocesso.
Saber que, para desenvolver a autoconfiança, não temos que viver com medo. Temos que desenvolver um padrão cotidiano de entrar no medo, permanecer com ele e sair dele, dando a nós mesmos tempo para nos recuperarmos e nos aprontarmos para o dia seguinte.” (Por que ninguém me disse isso antes?)
Antes de mudar, descubra quais são seus valores
“Trabalhe duro agora para aproveitar na aposentadoria”, “Passe em um concurso público”, “arranje um marido”, “Não largue um emprego estável”… E aí você é verdadeiramente boa em fazer o que te mandaram fazer. E de repente se vê vivendo uma vida que não parece ser sua.
Antes de tentar mudar de vida, é preciso perguntar: essa vida que quero construir é mesmo minha? Muita gente entra num ciclo de autossabotagem não porque é preguiçosa ou desorganizada, mas porque está tentando se encaixar em um projeto de vida que não tem nada a ver com seus valores pessoais. Valores não são objetivos — são direções. Eles apontam para o tipo de pessoa que você quer ser, e não apenas para o que você quer conquistar. Quando você age de forma alinhada com seus valores, mesmo os desafios ganham sentido. Mas quando vive no piloto automático dos “deverias”, tudo parece pesado, confuso, desmotivador.
Por isso, antes de estabelecer metas, hábitos ou cronogramas, pare e se escute: O que realmente importa pra mim? É liberdade? Crescimento? Paz? Criatividade? Conexão? O valor não é o destino, é o faro interno que guia as suas escolhas. Descobrir os próprios valores é sair do modo “cumpridora de checklists” e entrar no modo “autora da própria história”. A mudança verdadeira começa quando você troca a performance pelo propósito.
“Quando não sabemos com clareza quais são os nossos valores, podemos estabelecer metas baseadas no que achamos que deveríamos fazer, nas expectativas de terceiros, ou em um palpite de que, uma vez atingida a meta X, finalmente seremos suficientes, finalmente poderemos relaxar e ser felizes com quem somos. Um grande furo nessa postura é que ela estabelece parâmetros rígidos a respeito das condições em que podemos ficar satisfeitos e felizes, além de colocar toda a satisfação e a felicidade da vida no futuro. (…) Em vez de esperar que as coisas melhorem no futuro, que tal se a vida pudesse ter significado e propósito agora, por você viver de acordo com o que é mais importante? Você vai continuar a se esforçar em direção à mudança e à realização, com todas as suas forças, mas não estará esperando por uma vida significativa – você já a terá.” (Por que ninguém me disse isso antes?)

O Plano Prático: 30 Dias Para Mudar de Vida
1 hábito por dia. Pequenos, mas poderosos.
Cada hábito foi escolhido para atuar em áreas-chave: corpo físico, clareza mental, estabilidade emocional, propósito e autorrespeito.
O objetivo não é dominar todos eles imediatamente, mas entrar em contato com novas versões de si mesma.
Lembrando que você pode (e deve) alterar o plano para funcionar na sua realidade.
A ideia não é te encher de tarefas ou criar uma lista de exigências — é te convidar a praticar, dia após dia, um novo jeito de se relacionar consigo mesma.
Você vai aprender a:
- Criar hábitos sustentáveis (sem terrorismo motivacional)
- Identificar e sair de ciclos de autossabotagem
- Cultivar presença e constância emocional
- Substituir o julgamento interno por autocompaixão ativa
- Agir com base nos seus valores — não só nas suas vontades momentâneas
SEMANA 1 — Limpeza mental e reconexão interna (resetar o sistema)
Dia 1: Escreva tudo que está te travando hoje. Tire da mente. Dê nome ao caos.
Dia 2: Comece o dia com 3 minutos de respiração consciente (sem celular, sem café, só você).
Dia 3: Crie um “mantra de recomeço” e repita ao longo do dia (ex: Hoje, eu me movo com coragem mesmo com medo).
Dia 4: Elimine 1 hábito digital que drena sua energia (ex: checar redes sociais pela manhã).
Dia 5: Faça uma caminhada sem fones. Deixe os pensamentos virem e irem.
Dia 6: Liste 3 decisões mal resolvidas e escolha uma para resolver ou aceitar.
Dia 7: Escreva uma carta para a versão de você que está tentando nascer. Não julgue. Acolha.
SEMANA 2 — Corpo, energia e presença
Dia 8: Comece o dia bebendo água + alongamento de 5 min. Nada de celular antes disso.
Dia 9: Prepare uma refeição simples e saudável com presença total.
Dia 10: Faça uma faxina simbólica: uma gaveta, uma pasta digital, ou o quarto. Libere espaço.
Dia 11: Desative notificações do celular por 24h. Observe o impacto.
Dia 12: Experimente dormir sem telas por 1h antes de deitar. Leia, respire, ou escreva.
Dia 13: Faça um exercício físico leve (20 min de caminhada, yoga ou dança livre).
Dia 14: Escolha conscientemente um prazer saudável hoje (ex: banho demorado, chá quente, massagem).
SEMANA 3 — Emoções, sombra e autorrespeito
Dia 15: Observe e anote seus julgamentos mais recorrentes (contra você e contra os outros).
Dia 16: Quando sentir raiva ou tristeza hoje, pare e pergunte: o que isso quer me mostrar?
Dia 17: Pratique o “não” com gentileza. Diga não a algo que te desgasta (sem culpa).
Dia 18: Escolha 1 padrão emocional que quer romper e escreva qual microação pode substituí-lo.
Dia 19: Faça um inventário de quem/que te inspira. Reflita: estou me cercando de crescimento?
Dia 20: Faça uma prática de perdão. Comece por você.
Dia 21: Tire 30 min para não fazer nada. Só sentir. Só existir.
SEMANA 4 — Propósito, identidade e futuro intencional
Dia 22: Escreva 3 valores que quer viver daqui em diante.
Dia 23: Visualize quem você quer ser em 6 meses. Escreva com detalhes (ambiente, energia, rotina).
Dia 24: Escolha 1 pequena meta realista para os próximos 7 dias e inicie hoje.
Dia 25: Crie um plano detalhado para tirar um projeto do papel.
Dia 26: Pergunte-se: o que estou construindo hoje que o meu “eu do futuro” vai agradecer?
Dia 27: Reveja sua rotina atual. Há coerência entre sua vida e seus valores?
Dia 28: Crie um ritual de encerramento do dia: luz baixa, chá, escrita, oração ou silêncio.
Dia 29: Dê um passo simbólico rumo a algo novo (inscrição, email, vídeo, conversa, atitude).
Dia 30: Revise sua jornada. Escreva: o que mudou em mim? e o que continua precisando de atenção?
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