Você já se sentiu sozinha? Eu acredito que a solidão pode assumir muitos papéis. Como quando há a morte de um ente muito querido e você sente que não pode haver ninguém mais no mundo como ele para você. Ou quando alguém finaliza uma relação amorosa com você e você precisa lidar não só com o sentimento de rejeição, mas também com a solidão de fazer as coisas que vocês costumavam gostar de fazer juntos, como frequentar sozinha a cafeteria que vocês tomavam o café da manhã de todos os domingos juntos. Há ainda a solidão acompanhada, que é aquela que você sente mesmo quando está cercada de pessoas.
Este ano eu completo 6 anos morando sozinha. E talvez uma das perguntas que eu mais recebo neste canal e nas minhas outras redes sociais seja: “não é solitário morar sozinha?”. E, sim, pode ser extremamente solitário. Acredito que nos meus primeiros anos morando sozinha grande parte do que eu senti foi isto mesmo: solidão. Eu aproveitava meus momentos sozinha na minha casa para fugir da realidade e encontrar paz no silêncio absoluto que reinava fora de mim, enquanto, internamente, meus pensamentos gritavam bem alto.
Só alguns anos depois eu fui entender que a solidão não é uma casa vazia; são todas as vezes que eu me esvazio de mim.
No vídeo de hoje, eu quero te contar como ressignifiquei a solidão e aprendi a curtir a minha própria companhia.
Como ressignifiquei a solidão
No dicionário, a palavra “solidão” está descrita como:
“Estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só; isolamento.”
A palavra deriva do latim e quer dizer também “retiro, desamparo e abandono”.
A solidão então é basicamente esse estado de isolamento e desconexão, quando nos sentimos desamparados, abandonados, incompreendidos… E a gente pode experimentar esse sentimento mesmo cercados de outras pessoas. Porque esse sentimento não tem a ver com o externo somente, mas com o que acontece dentro da gente também.
Eu acredito que você que está me assistindo já tenha experimentado algumas vezes na sua vida esse sentimento. Acredito que faz parte da experiência humana. Ele pode surgir de um sentimento de abandono, quando há o rompimento de um relacionamento, por exemplo, e você é a pessoa que foi deixada para traz, ou quando você sente que não se encaixa em um meio ou grupo no qual está inserido, mas eu sinto como se fosse um estado de fuga também.
Muitas vezes nos isolamos porque estamos fugindo de alguma coisa, mesmo que a princípio não saibamos exatamente do que estamos fugindo. Eu vivi isso por muito tempo. Anos atrás, quando me perguntavam se era solitário morar sozinha, eu respondia sempre que “não, eu amo ficar sozinha!”. Mas a verdade é que “estar sozinha” era o meio de fuga que eu havia encontrado para os problemas da minha vida que eu ainda não sabia como resolver e talvez não estivesse pronta nem para sequer olhar para eles. Eu estava passando por um transtorno mental e no começo eu nem sabia. Por isso este vídeo não é para todo mundo, ok? Eu não sou psicóloga e estou só compartilhando a minha opinião com base no que aprendi lendo e estudando muito…
Mas tem o outro oposto também, né, que é quando a chega busca no outro a fuga para os nossos problemas e não nos sentimos bem sozinhos de jeito nenhum.
Lembrando que é humano querer pertencer. Somos seres sociáveis e precisamos “sim” do convívio com outras pessoas para nos desenvolvermos plenamente. Aqui nós estamos falando da solidão como problema, no extremo de quem se sente incapaz de estar sozinho e necessita constantemente da aprovação e validação de outras pessoas.
Tem um vídeo maravilhoso no YouTube, da professora Lúcia Helena, da Nova Acrópole, onde ela dá uma verdadeira aula sobre carência afetiva. Eu vou deixa aqui para quem tiver curiosidade e quiser aprender mais sobre o tema.
Nele ela fala sobre alguns dos pressupostos que levam a carência, essa necessidade do outro, essa incapacidade de estar só, de estar consigo mesmo… Eu trouxe 2 deles para compartilhar com vocês no vídeo de hoje, mas vale muito a pena assistir a aula completa depois, ok?
Baixa auto-estima
Um dos pressupostos da carência afetiva é a baixa auto-estima, que é basicamente quando eu não me amo o suficiente, então preciso que o outro supra essa falta em mim. Eu não sei dar amor a mim mesmo, então preciso que o outro me ame para que eu consiga me sentir bem.
Incapacidade de distribuir amor
O outro pressuposto é a incapacidade de distribuir o amor. Eu não consigo equilibrar as diversas áreas da minha vida, então deposito toda a minha atenção, foco e amor em uma única pessoa, que precisa pagar a mim por toda essa devoção desmedida servindo como o centro de toda a minha existência e suprindo toda a carência afetiva que eu sinto.

E por que eu estou falando sobre isso em um vídeo sobre solidão? Porque a gente ressignifica a solidão quando entende que ela é o trampolim para a construção da nossa vida interior, auto estima, princípios e valores. Você só consegue compreender a si mesma, só consegue entender o que precisa, quando se enche de si. A solidão, portanto, é apenas o seu encontro com você mesma.
Eu ressignifiquei a solidão quando aprendi a usar estes momentos solitários para praticar a minha vida interior, crescer, me desenvolver como pessoa, descobrir meus pontos fortes e fracos, ressignificar as minhas crenças, estudar, me aperfeiçoar, buscar descobrir o que de fato era importante para mim… Eu comecei a me encher de mim para transbordar no mundo. E desse dia em diante, a falta que eu sentia do que era externo a mim foi diminuindo, um pouquinho mais a cada dia…
A importância da solitude
Eu descobri depois que havia um termo para isso: chama-se de solitude.
Eu puxei no dicionário pra gente também:
“Condição de quem se isola propositalmente ou está em um momento de reflexão e de interiorização.”
A solidão para Nietzsche
Nietzsche enxergava na solidão um convite para nos libertarmos das correntes com as quais a sociedade nos aprisiona, uma oportunidade de se distanciar das influências negativas da sociedade e cultivar uma força interior. Ele acreditava que a solidão era essencial para “tornar-se o que se é”, ou seja, para alcançar a autenticidade e a auto-realização.
Afinal, como você vai descobrir quem você é e o que é importante para você com o mundo gritando a sua volta?
Aliás, quando foi a última vez que você colocou o mundo no mudo para ouvir as suas vozes internas te contarem sobre os seus sonhos, as suas crenças, os seus valores, o que é importante para você, quem é você no mundo longe de tudo o que te ensinaram a vida toda…? Já parou para pensar o quanto de você é seu e o quanto é construção de outras pessoas?
Você realmente queria fazer aquela faculdade ou foi o seu pai que a convenceu de que o melhor caminho para você era aquele? Quando alguém te pede uma opinião, sobre qualquer coisa, e você responde, essa opinião é sua, verdadeiramente, ou é só a repetição do que você ouviu alguém dizer?
“E se um dia, ou uma noite, um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, partícula de poeira!”
Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?”
Eterno Retorno – Friedrich Nietzsche
Se você soubesse que viveria esta vida outras milhares de vezes, você ainda a viveria da mesma maneira que vive agora? Você continuaria fazendo as mesmas escolhas? Tomando as mesmas decisões? Amando as pessoas da mesma forma? Amando a si mesma da mesma forma?
A solidão não é ruim
Eu parei de me esvaziar de mim e passei a encarar a solidão como uma oportunidade de autoconhecimento. Eu amo estar com outras pessoas, amo passar tempo com o meu namorado, com a minha família e amigos, mas estar sozinha deixou de ter um peso tão grande quando eu entendi que era a oportunidade perfeita para me encher de mim, me conhecer, me descobrir…
Eu aposto que você tem trabalho a fazer também. Eu não sei o que você está passando agora, ou porque clicou no título deste vídeo, porque deseja aprender a ser sozinha, o que eu quero te dizer é que você nunca estará sozinha porque sempre estará cerca de si mesma, se assim você desejar.
Mergulhar em nós mesma não é um processo fácil, mas é transformador. Vai transformar seu jeito de ver o mundo, vai transformar suas relações, seu trabalho, sua forma de agir e de pensar…
O que fazer sozinha
Você pode colocar uma música para tocar. Pode ler um livro. Ou quem sabe escrever um livro? Você pode cozinhar, fazer um afago no seu gatinho, assistir uma série… Quem sabe um documentário?
Você pode escrever sobre os seus sentimentos, ouvir um podcast, passear pela orla da praia… Quem sabe andar de bicicleta? Quem sabe andar de bicicleta e ouvir um podcast?
Você pode hidratar o cabelo, fazer as unhas… Quem sabe se levar para jantar?
Pintar uma tela, a parede da sala, aparar a grama do jardim, tomar banho de mangueira… Quem sabe um banho de piscina?
Você pode cultivar rosas, tocar violão, aprender um novo idioma… Quem sabe?
0 Comentários