
Esses dias aconteceu uma coisa estranha, que vem se tornando mais comum para mim do que deveria. Após o almoço, eu estava simplesmente exausta. Era uma sexta-feira e eu não tinha nenhuma pendência, nada urgente para resolver, então pensei em relaxar um pouquinho e começar a desacelerar.
Abri o Instagram (e esse foi o meu erro número um) e comecei a ver várias influenciadoras que eu acompanho viajando, lançando curso, correndo na rua, indo para a academia, lendo e ganhando dinheiro…
De repente, me veio uma sensação horrível, um descontentamento com a minha própria vida, sabe? Uma sensação de insuficiência, como se eu não estivesse fazendo o bastante. Então veio a culpa por querer descansar, afinal, ainda era o meio do dia de uma sexta-feira.
Então eu comecei a dialogar comigo mesma. Me lembrei de que eu já havia entregado tudo o que eu precisava, não haviam mais pendências para aquela semana, eu havia me exercitado 3 vezes naquela semana, estava cuidando da minha alimentação, tinha um trabalho que me permitia “escolher” descansar ao invés de produzir naquele momento…
E aí me veio essa pergunta na cabeça — tão simples e tão desconfortável:
Se eu saísse das redes sociais hoje… será que eu ainda me cobraria tanto assim?
Vocês já se sentiram assim também? Como se nada do que fizessem fosse suficiente?
Será que essa pressão que a gente sente é realmente nossa? Ou é só o reflexo de um lugar onde todo mundo parece estar vencendo o tempo inteiro?
Hoje eu quero falar com você sobre isso. Sobre dopamina, produtividade tóxica, comparação, e essa necessidade de se provar o tempo todo… para quem, mesmo?
O peso invisível
Tem uma coisa que ninguém fala… A gente acorda cansado e vai dormir exausto — não porque fez muito, mas porque pensou demais sobre tudo o que não fez.
E sabe o que alimenta esse ciclo? A comparação silenciosa que rola cada vez que a gente abre um aplicativo de rede social.
Sempre vai ter alguém nos stories que correu 5km e ainda são 6 da manhã.
Outro alguém que começou a ler o 3º livro só este mês.
Um terceiro faturando seis dígitos com algo que parece fácil.
Aí você olha para a sua rotina e pensa:
“Estou atrasada. Não estou fazendo o suficiente. Eu deveria estar fazendo mais.”
Mas será que isso é seu? Ou é só uma culpa emprestada do feed?
Comparação social ascendente
A psicologia chama isso de comparação social ascendente.
A teoria da comparação social, proposta pelo psicólogo Leon Festinger nos anos 1950, diz que nós avaliamos o nosso próprio valor e desempenho nos comparando com outras pessoas.
Quando a gente se compara com alguém que parece estar em uma posição ‘melhor’, o efeito imediato costuma ser de inadequação e insuficiência. Porque você só se compara com o resultado final das pessoas, nunca com o processo. E quase sempre ignora o contexto:
- Você se cobra pelo corpo da influenciadora… mas não considera que ela tem equipe, cirurgia, filtros e patrocínio.
- Você se sente atrasada porque alguém de 22 anos já é CEO… mas não vê os privilégios ou até os sacrifícios que aquilo exigiu.
- Você acha que está vivendo menos porque não viaja, mas talvez esteja investindo em algo invisível — como saúde mental ou estabilidade financeira.
A neurociência mostra que essas comparações disparam o mesmo sistema límbico ligado ao estresse e à ameaça social, especialmente a amígdala (envolvida no medo e na vigilância). É como se o seu cérebro entendesse:
“Você está perdendo. Você precisa correr.”
E isso gera mais ansiedade, mais autocobrança, mais hiperprodutividade… e um senso constante de urgência.
Você começa a construir sua autoestima com base no feed.
Sua régua vira o desempenho alheio. Sua identidade vira um reflexo do outro.
Mas o feed é um recorte. Uma curadoria. A versão esteticamente editada de uma realidade que você não vive.
Pensa que cada comparação que você faz é como pegar a régua dos outros e começar a medir sua própria vida com ela.
Mas o problema não é você não caber nessa régua.
É que ela nunca foi feita pra você.

Redes sociais e dopamina
Você já reparou como a gente às vezes abre o Instagram sem nem pensar?
É quase automático. E quando vê… passaram 40 minutos.
Nosso cérebro é movido a dopamina — o neurotransmissor do prazer, da expectativa e da recompensa.
E as redes sociais são perfeitas para ativar esse sistema: notificações, curtidas, comentários, vídeos curtos.
Tudo entrega picos de dopamina fáceis e rápidos. Mas tem um custo.
Nosso cérebro não foi feito para lidar com esse nível de estimulação constante. E quanto mais ele recebe esses picos rápidos e frequentes de dopamina, mais ele se acostuma. Isso se chama dessensibilização dopaminérgica.
Quanto mais você estimula o cérebro com essas micro-recompensas, mais ele se dessensibiliza. Ou seja: coisas simples como ler um livro, cozinhar, caminhar… perdem a graça. Elas não competem com o nível de estímulo que o TikTok oferece em 30 segundos.
E o pior: essa busca constante por novidade e validação começa a moldar o seu comportamento.
Você deixa de fazer o que quer… e começa a fazer o que gera engajamento.
Você não faz mais o que tem vontade.
Você faz o que pode render likes.
Você não pensa mais no que te preenche.
Você pensa no que “performaria bem”.
E de repente… você tá criando uma versão de si mesma para alimentar o algoritmo.
E se afastando cada vez mais de quem você era antes de tudo isso.
Produtividade tóxica
Aqui entra um conceito que a psicologia organizacional vem debatendo muito: a produtividade tóxica.
É quando a busca por resultados vira uma compulsão.
Você não consegue descansar sem culpa.
Não consegue comemorar sem pensar no próximo passo.
Isso acontece porque vivemos em um ambiente onde estar ocupado virou sinal de valor.
E se você não estiver rendendo… parece que você não é suficiente.
Mas produtividade real não é sobre fazer mais.
É sobre fazer o que importa — e conseguir parar depois.

O Efeito Spotlight
Existe um fenômeno chamado efeito holofote (spotlight effect).
Trata-se de um fenômeno estudado na psicologia social que mostra como a gente superestima o quanto os outros estão prestando atenção em nós.
Pesquisadores como Thomas Gilovich mostraram que, quando estamos inseguros ou nos sentindo “expostos”, nosso cérebro ativa uma espécie de hiperconsciência da nossa imagem.
A gente sente que TODO MUNDO vai reparar se a gente erra, some, fala diferente, muda.
Mas aqui vai a verdade desconfortável (e libertadora): as pessoas estão ocupadas demais pensando nelas mesmas.
E saber disso tira um peso.
Porque, no fundo, você não precisa manter essa presença constante, perfeita, incansável.
Você pode existir fora do palco.
Você pode sair da vitrine, fechar a cortina, cuidar de si sem documentar nada.
E se a régua mudasse?
Se você saísse das redes sociais hoje…
O que te faria sentir orgulho de si mesma?
O que guiaria os seus dias sem esse painel digital de comparação?
Você conseguiria medir progresso sem likes?
Celebrar pequenas vitórias sem stories?
Motivação Intrínseca
A psicologia chama isso de motivação intrínseca: fazer algo não pela recompensa externa, mas pelo significado interno.
É quando você limpa a casa e sente paz, mesmo que ninguém veja.
É quando escreve uma página e sorri, mesmo sem postar.
É quando você escolhe o que é bom para você, não o que parece impressionante para os outros.
Porque a vida real não tem trilha sonora.
Às vezes ela é entediante, repetitiva, confusa.
Mas é nela que as mudanças de verdade acontecem.
Mais presença, menos pressão
Talvez você não precise de mais um planner.
Talvez precise de um abraço, de uma pausa, de uma tarde sem nada.
Você não é preguiçosa. Nem desorganizada.
Você só está sobrecarregada de estímulo, de expectativa, de comparação.
Seu valor não está no quanto você produz, nem no quanto você mostra.
Está no quanto você se permite existir — mesmo quando ninguém está vendo.
Então respira. Fecha os olhos. E lembra: você pode ir mais devagar. Você já está indo bem.
O que você faria se não precisasse impressionar ninguém?
Se esse vídeo te trouxe alguma clareza, compartilha com alguém que também vive se cobrando demais.
E me conta nos comentários: o que você faria mais se não estivesse tentando impressionar ninguém?
0 Comentários