Você provavelmente já ouviu falar na menininha de 10 anos raptada por um louco e mantida em cativeiro por 8 anos. Natascha Kampusch tinha apenas 10 anos quando, pela primeira vez, após uma briga com a mãe, decidiu ir caminhando sozinha para a escola. À espreita, Wolfgang Priklopil, engenheiro desempregado, aguardava pela chance única de agarrar Natascha e empurrá-la para o furgão branco, saindo em disparada pela rua logo depois.
Ele planejara o sequestro meticulosamente meses antes. Construíra uma pequena cela subterrânea de 5 m² embaixo da garagem para prender a menina, e o único acesso para lá se dava por um pequeno túnel fechado por uma porta de concreto. Wolfgang morava sozinho e recebia apenas visitas esporádicas da mãe, que lhe levava comida de vez em quando. Era o ambiente perfeito criado para manter a pequena Natascha em segredo durante anos. Ainda mais desesperador é o modo como o filme mostra que a polícia esteve à poucos passos de onde a criança estava trancada, chegou a interrogar o suspeito (por causa da vã branca vista por uma testemunha e que era a única pista da polícia do possível paradeiro de Natascha) e, mesmo assim, mesmo sem que Wolfgang apresentasse um álibi, a polícia não viu nele um possível suspeito e simplesmente partiu.
Por oito anos, Natascha foi mantida em cativeiro. O filme mostra de maneira perturbadora os 3096 dias de cativeiro em que Natascha se manteve sob os cuidados do sequestrador e mostra também, de maneira muito clara, os sentimentos contraditórios da menina e posterior adolescente Natascha Kampusch, desde a menininha de 10 anos que, presa numa cela de 2 por 3 metros, brincava de escolinha com um vestido velho disposto empertigado na cadeira ou desenhava maçanetas e pintava armários para deixar a sua cela o mais parecida possível com o seu antigo lar, até a adolescente vivendo uma relação adulta com o homem que a raptara e criara desde então, escrevendo em pequenos pedaços de papel higiênico todas as surras, socos e pontapés que recebia dele quando fazia algo que o desgostava.
É uma relação bastante controversa, e é quase difícil entender o que se passa diante dos nossos olhos. Wolfgang era um homem atormentado, isso claramente, e desde o início até o final não fica claro os motivos que o levaram a manter Natascha em cativeiro. É assustador observar o modo como a relação deles evolui, como ele passa a confiar nela, chegando a permitir que ela frequentasse a casa, dormisse com ele em seu quarto e desse pequenos passeios com ele até o jardim, ao supermercado e até a uma estação de esqui. Natascha vive paralisada pelo medo de uma represália e pelo o que o mundo lá fora representa. Por oito anos, ela vive os abusos e, no fim, chega praticamente a criar uma ligação com o raptor, o que os médicos descrevem como Síndrome de Estocolmo, estado em que a vítima passa a se identificar com o sequestrador e criar certo afeto por ele.
Como vocês sabem, e como a mídia noticiou, Natascha finalmente se aproveita de um descuido de Wolfgang e consegue fugir e pedir ajuda. O sequestrador se joga na frente de um trem logo em seguida. O filme de fato termina aí e não mostra as consequências desse episódio terrível que roubou a infância e adolescência de Natascha, mas basta pesquisar um pouco para encontrar entrevistas dadas por Natascha à televisão, a primeira apenas duas semanas depois de se libertar.
O filme é baseado no livro homônimo escrito pela própria Natascha.
Eu realmente não consegui deixar de buscar mais sobre a história de Natascha e me surpreendi verdadeiramente com a lucidez é a paz de espírito de Natascha, mesmo depois de tudo pelo que passou. Em uma das entrevistas, ela fala sobre os policiais na cena do crime e comenta sobre como a investigação não foi feita da maneira correta, inocentando, porém, os policiais, afinal, “eles são apenas pessoas e não poderiam imaginar que eu estivesse ali presa”. Fala sobre a relação com o sequestrador e comenta sobre como ele era a única figura adulta que tinha e sobre como ele era vital para a sobrevivência dela: “se ele não tivesse me levado comida regularmente, me deixasse respirar ar fresco e me comunicar com ele, eu provavelmente teria morrido.” A entrevista fala também de como Natascha foi acusada de lucrar com essa história e o repórter que a entrevistou pela primeira vez após a libertação comenta sobre como o fato de ela parecer tão consciente e não querer ser vista como uma vítima, fez com que as pessoas pensassem que aquilo não fazia sentido, que não podia ter sido tão ruim assim.
Acontece que Natascha quis que todo o dinheiro das entrevistas fosse parar em suas mãos, e não na da mídia que vendia a sua história de medo e dor ao mundo. Ela criou fundos de caridade e passou a viver sozinha em um apartamento no centro de Viena. Ganhou na justiça a casa de Wolfgang no intuito de proteger a sua intimidade e não deixar que o lugar se transformasse numa atração turística. Na entrevista ela também fala sobre como é difícil sair nas ruas e fazer amigos: “muitas pessoas só querem os lados positivos de uma amizade e nunca querem os lados negativos”. Para ver o vídeo da entrevista completo, clique aqui.
Eu sei que o post ficou enorme e peço desculpas, mas eu realmente precisava desabafar todo o sentimento que esse filme e essa história (real, gente, aconteceu) parece cravar dentro da gente. No fim, acredito que Natascha teve uma reação de muitos sentimentos envolvidos com relação ao sequestro e a Wolfgang, mas principalmente de coragem de lutar pela própria vida segundo a segundo, e tirar o melhor que pudesse de uma situação impensável, de uma situação por oito anos sem possibilidade de fuga.
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o filme promete ser forte, essas questões de cativeiro são muito abaladoras, acredito que Natascha tenha sofrido muito, mais do que deixa transparecer
http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br
Também acho, Thaila! O que fica é a coragem e a força dessa menina!
Incríveeeeeeel. Só isso que eu tenho a dizer. Eu teria me matado, não sei, coitada, ela cresceu com esse monstro e a gente não sabe completamente o que aconteceu lá dentro! Nossa, e sua escrita foi perfeita, tô em transe com a história :/ hahahaha que medo!
http://www.mabeato.blogspot.com
É meio assustador mesmo, Marcella. O filme é terrível, mas digo que pior mesmo é ver as entrevistas da verdadeira Natascha. A gente fica encarando o olhar dela e tentando entender de onde aquela garota tirou tanta força para sobreviver e seguir em frente. É.
Incrível, quero muito assistir. ps: ótimo blog.
Obrigada, L. Fico feliz que tenha gostado do meu cantinho! Beijos!
Nossa, o post me prendou até o final. Essa história é super interessante, e me dá até um medinho confesso. Há um bom tempo atrás vi um filme começando do jeito que se descreve aí, quer dizer, tinha o cativeiro e tals, acho que era dessa história, mas não vi ele até o final – nem até o meio rsrs, e não sabia que realmente existia uma história real assim. Deu calafrios.
É verdade, Laura. Eu também já li um livro mais o menos assim (Identidade Roubada – Chevy Stevens, já leu?), e fica um gostinho amargo e uma sensação meio estranha no peito. Mas lá era uma história de ficção e aqui, no caso da Natascha, sabemos que foi real, que aconteceu. Acho que isso torna tudo ainda mais intenso e difícil. Não é um filme para qualquer um, não.
OI Náh!
Eu cheguei a ler uma biografia sobre algo parecido, só não me lembro no nome do livro *memória zero*
E realmente é complicado entender as atitudes do sequestrador, assim como da pessoa sequestrada. Sem contar toda a luta da pessoa para voltar na sociedade ='(
Bjks!
O filme foi baseado no livro que a própria Natascha escreveu e me disseram já que é bem mais chocante e aterrador do que o próprio filme. Não sei se teria estômago para ler, mas fiquei curiosa, sim. Quanto a relação entre a Natascha e o sequestrador, achei bastante lúcido e lógico o que ela disse em uma das entrevistas: ele era a única figura adulta que ela tinha e era vital para a sua sobrevivência. Ou seja, ela conseguiu tirar de uma situação impensável o melhor que pode. Poucas pessoas são capazes de algo assim.
Eu li o livro assim que foi lançado, e apenas no filme não dá pra ter noção do que essa moça passou, fiquei variosss dias me sentindo mal, imaginando a vida dela. E logico que depois que li tbm fui pesquisar a vida dela, e como foi julgada, o ser humano e sua incrível capacidade de julgar… Fico feliz em saber que ela deu a volta por cima, claro que os traumas sempre vão existir, mas que ela seja um exemplo de coragem, de alguém que não desistiu.